Na próxima aula apresentarei a filosofia moral de Arthur Schopenhauer. A partir dela poderemos abordar as mais importantes teorias sobre a moralidade no mundo contemporâneo (Nietzsche, Marx e Freud). A biblioteca dispõe de alguns exemplares de sua principal obra (O mundo como vontade e representação), e é no quarto livro dessa obra que Schopenhauer expõe sua ética. Outra obra importante é Sobre o Fundamento da Moral, mas a biblioteca só possui um exemplar da tradução espanhola (publicada no livro Los dos problemas fundamentales de la ética).
Para um breve resumo da filosofia de Schopenhauer, ver
https://docs.google.com/file/d/0B4Nh4LsQs3W6STZpV1E2TXcxOUE/edit?usp=sharing
Para uma exposição mais detalhada da ética de Schopenhauer, ver
https://docs.google.com/file/d/0B4Nh4LsQs3W6bEt0UGpROU5vdGM/edit?usp=sharing
Recomendo também a leitura do livro Sobre a ética que traz alguns capítulos da obra Parerga e Paralipomena que expõem aspectos particulares de sua filosofia moral:
http://www.hedra.com.br/livros/sobre-a-etica
"Tomem-se dois jovens, Caio e Tito, ambos apaixonados, cada um por uma moça diferente. No caminho de cada um, por circunstâncias externas, há um rival preferido. Ambos estão decididos a mandar os seus respectivos rivais para o outro mundo e ambos não correm o risco de serem descobertos ou mesmo de se tornarem suspeitos. Todavia cada um deles, por seu lado, ao se aproximar a realização do assassinato, dele desiste, depois de uma luta consigo mesmo. Eles têm de nos prestar contas, precisas e claras, das razões da desistência de suas resoluções. A explicação de Caio deve ficar por conta da escolha do leitor. Ele pode ter sido demovido talvez por razões religiosas, como a vontade de Deus, o castigo que o espera, o juízo futuro, etc. Ou ele diz: “Eu pensei que a máxima de meu procedimento neste caso não teria sido adequada a dar uma regra universalmente válida para todos os possíveis seres racionais, pois eu teria tratado meu rival só como meio e não, ao mesmo tempo, como fim”. Ou ele diz com Fichte: “Cada vida humana é meio para a realização da lei moral. Portanto, sem ser indiferente à realização da lei moral, não posso aniquilar alguém que é destinado a colaborar com ela”. (Doutrina dos costumes, p. 373). (Dizendo de passagem, ele poderia prevenir-se desse escrúpulo, esperando produzir logo, com a posse de sua amada, um novo instrumento da lei moral). Ou ele diz, de acordo com Wollastone: “Refleti que aquela ação seria expressão de uma proposição não verdadeira”. Ou diz, de acordo com Hutcheson: “O sentido moral cujas sensações são tão inexplicáveis quanto a dos outros sentidos destinou-me a abandoná-la”. Ou diz, de acordo com Adam Smith: “Eu previ que minha ação não despertaria nos observadores nenhuma simpatia por mim”. Ou, de acordo com Christian Wolff: “reconheci que por essa ação eu estaria trabalhando contra meu próprio aperfeiçoamento e que também não promoveria o de nenhum estranho”. Ou diz com Espinosa: “nada é mais útil para o homem que o próprio homem, logo eu não poderia querer matar um homem”. Em suma, ele diria o que se quisesse. Mas Tito, cujas razões eu reservo para mim, diria: “Quando chegou a hora dos preparativos e, por um momento, não tive de me ocupar com a minha paixão e sim daquele rival, tornou- se-me claro, pela primeira vez, o que se passaria com ele. Fui então tomado pela compaixão e pela misericórdia, tive dó dele e não tive coragem: eu não poderia fazê-lo”. Agora pergunto ao leitor honesto e imparcial: qual deles é o melhor homem? Nas mãos de quem poria, de melhor grado, o seu destino? Quem foi impedido pelo motivo mais puro? Onde está, de acordo com isso, o fundamento da moral?" (Arthur Schopenhauer, Sobre o Fundamento da Moral, § 19).
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ResponderExcluirObrigada Prof. Flamarion,
ResponderExcluirestou começando as minhas leituras em Schopenhauer e gostaria de agradecê-lo por sua expressiva pesquisa, graças a pesquisadores como você posso desfrutar de excelente fortuna crítica. Grande abraço!